O general Heleno se manifestou em palestra na Maçonaria do
Distrito Federal, ao dizer que a volta dos militares ao poder seria hoje uma
estupidez, porque o mundo é outro e a democracia, apesar dos defeitos, é o
melhor regime.
Nesse contexto de enfrentamentos tardios, merecem reflexão
as posições defendidas por Gabeira e Heleno, por serem guiadas pelo bom senso e
pela admissão dos erros cometidos num passado que ainda é muito recente para
quem viveu aquela época.
O general Heleno se manifestou em palestra na Maçonaria do
Distrito Federal, ao dizer que a volta dos militares ao poder seria hoje uma
estupidez, porque o mundo é outro e a democracia, apesar dos defeitos, é o
melhor regime.
Ex-comandante da Missão das Nações Unidas no Haiti e também
ex-comandante militar da Amazônia, o general criticou a Comissão Nacional da Verdade,
afirmando que seus integrantes partem do pressuposto de que os grupos que
travaram a luta armada contra o regime buscavam implantar uma democracia no
Brasil, embora se saiba que o objetivo era mesmo impor um regime ditatorial
comunista.
Por sua vez, em debate na Casa do Saber, no Rio de Janeiro,
Fernando Gabeira destacou o que chamou de “ilusões” dos dois lados. “Os
militares achavam que os brasileiros não sabiam votar e que enquanto houvesse
eleição os demagogos venceriam. Achavam que podiam ensinar o povo a votar, e
roubaram a principal motivação para o aprendizado, que é a liberdade”.
Mas também a esquerda, lembrou Gabeira, sobretudo a armada,
acreditava que poderia servir de guia aos cidadãos. Os dois lados de certa
maneira achavam-se dirigentes dos destinos do país, comentou o x-deputado, e se
afastavam “da ideia de que o povo, através de seu desenvolvimento, poderia se
aperfeiçoar”.
“Na verdade, nenhum dos lados acreditava na democracia”,
salientou o moderador do debate, jornalista Merval Pereira.
TEORIA DO FOCO
Gabeira disse ainda que havia determinadas ilusões na luta
armada, como a “teoria do foco”, ideia que vinha de Cuba e se baseava no livro
do francês Regis Debray prevendo que o movimento revolucionário acabaria
atraindo o apoio das populações, o que não era verdade, e foi essa expectativa
que custou caro a Ernesto Guevara ao tentar exportar a revolução cubana para a
Bolívia.
Em meio ao posicionamento moderado e realista de Heleno e
Gabeira, por parte do governo o que se vê é uma tentativa patética de passar a
borracha na História, apresentando acertadamente os militares como ditadores,
mas falsamente considerando os militantes da luta armada como defensores da
democracia, o que decididamente não é verdade.
Não devemos tentar mudar a História. Esse posicionamento que
visa a adulterar os acontecimentos resulta patético e grotesco. E isso é o
mínimo que se pode dizer a respeito.
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